Do luto à arte: Diogo Mainardi apresenta seu novo livro “Meus Mortos” no The Noite

Danilo Gentili recebe no The Noite desta terça-feira, 30 de setembro, o escritor, jornalista, comentarista e roteirista, Diogo Mainardi. No programa, ele fala sobre o lançamento de Meus Mortos: uma fotonovela que conecta a história da arte a reflexões pessoais, tendo como protagonista Ticiano, pintor veneziano do século XVI.

“É uma fotonovela. Usei o meio narrativo mais primário da história de todos os tempos… As imagens condicionaram a ideia. Eu tinha a proposta de um livro bastante convencional, vendi para a editora, recebi um adiantamento fabuloso em 2013, mas não escrevi porque já não gostava mais do projeto. Era apenas uma jogada, um malabarismo. Escrevia sobre dinheiro, usando como mote os compradores, grandes colecionistas de Ticiano. Desisti do livro e deixei engavetado”, conta.

A pandemia, porém, mudou tudo. Em apenas oito meses, Diogo perdeu pai, mãe e irmão.

“Durante a Covid, perdi todos da minha família: pai, mãe e irmão. Naquele momento, as coisas começaram a se juntar. Quando escrevi a primeira versão do livro, falava de um indiano que havia comprado um quadro falso e, muitos anos depois, esse mesmo indiano se tornou o primeiro vendedor de vacinas para o Brasil. Todas as peças se encaixaram. E eu precisei digerir toda essa mortandade, não só dos meus familiares. Eles morreram justamente naquele período em que os boletins diários registravam milhares de mortes. O livro é um tributo aos meus mortos. Para mim, o mais importante foi chegar a um resultado final depois de toda a penúria da pandemia e das minhas perdas pessoais”, completa.

Apesar da dureza do tema, Diogo garante que o processo também lhe trouxe leveza: “Foi saudável para mim. Me diverti muito, não sei fazer de outro jeito.”

A mãe, Julia Mainardi, publicitária e escritora, falecida em 2021, foi uma das maiores influências na formação intelectual de Diogo. “Aprendi com a minha mãe, que me trazia para a Europa e me levava a museus. Nesse caso, a arte serviu para me explicar o que eu não estava conseguindo entender direito a respeito de mim e do que acontecia ao meu redor. Escolhi Ticiano, o maior pintor veneziano, que morreu de peste em 1576. A arte está presente porque é ela que fornece o prazer estético necessário para investigar as questões que não sabemos responder.”

A relação de Diogo com Julia também passa pela literatura. “Fiz tudo para provocar a admiração dela. Minha mãe era a minha grande interlocutora. Em casa, tive dois exemplos muito diferentes: meu pai, instintivo, exuberante, carismático, que centralizava toda a atenção; e minha mãe, o oposto, muito cerebral, que tentava racionalizar tudo. Ela me passou o amor pelos livros, pela arte, pelas viagens e, sobretudo, essa tentativa quase maníaca de racionalizar as coisas.”

No bate-papo, Diogo ainda relembra sua trajetória na imprensa, incluindo a coluna que assinou em VEJA, entre 1999 e 2012, sua saída da revista, o lançamento de A Queda (livro em que narra a história de Tito, seu filho mais velho, que sofreu paralisia cerebral após um erro médico grotesco), e a criação de O Antagonista, seu projeto jornalístico predileto.

Questionado sobre rótulos políticos, o escritor é direto. “Sou uma pessoa livre, que não se associa. Essa é a melhor apresentação que posso fazer do meu livro: um manifesto sobre a liberdade artística e intelectual. É isso que importa para mim, e para quem faz o que eu faço”, finaliza.

O The Noite é apresentado por Danilo Gentili e vai ao ar de segunda a sexta-feira, no SBT. Hoje, a partir de 00h45.

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