Mães negras enfrentam maior sobrecarga emocional e menos acesso a cuidados, aponta especialista em saúde mental, Maiumi Souza

 

Mulheres negras são 62% das mães solo no Brasil, representam 60% das mortes maternas e recebem quase metade do acompanhamento dado a mulheres brancas no parto

Dados recentes sobre maternidade, saúde e trabalho mostram como a intersecção entre raça, gênero e classe aprofunda a sobrecarga dessas mulheres e limita o acesso a serviços essenciais, incluindo apoio psicológico.

Segundo levantamentos do Ministério da Saúde, as mulheres negras representam 62% das mães solo no país e enfrentam maiores índices de pobreza e desemprego. A desigualdade também aparece no acesso aos serviços de saúde: apenas 27% das mulheres negras têm acompanhamento durante o parto, enquanto nas mulheres brancas esse percentual é de 46,2%. A campanha SUS Sem Racismo (2014) evidenciou que 60% da mortalidade materna no Brasil atinge mulheres negras, refletindo não apenas uma violência de gênero, mas uma violência racial enraizada nas estruturas do cuidado. A monografia “Raça e violência obstétrica no Brasil” (Lima, 2016) reforça esses dados ao mostrar que mulheres negras são as que mais enfrentam práticas desumanizadas no momento do parto.

Maiumi Souza é psicóloga especialista em Gestalt-Terapia e Desenvolvimento Infantil, com atuação voltada à saúde mental de mulheres, crianças e famílias. Sua prática clínica é orientada por uma escuta ética e politicamente implicada, que reconhece que raça, gênero e classe atravessam todas as experiências psíquicas. Com trajetória em cuidado perinatal, docência e estudos sobre trauma, Maiumi integra saberes da neurociência e da psicologia do desenvolvimento para construir um cuidado sensível e vincular, sustentado pela crença de que cuidar do início da vida é cuidar das estruturas que mantêm uma família inteira. A psicóloga, chama atenção para a urgência de políticas e práticas de cuidado voltadas às mães negras no Brasil.

Esses fatores estruturais têm impacto direto na saúde mental de mães negras, que enfrentam jornadas extensas, instabilidade econômica e falta de redes de apoio para o cuidado com os filhos. Para a psicóloga Maiumi Souza, o adoecimento emocional dessas mulheres não pode ser interpretado como uma experiência individual ou isolada, mas como resultado de um sistema que naturaliza a sobrecarga.

“Falar da saúde mental de mães negras é falar de condições reais de vida. Não existe equilíbrio emocional possível quando a maternidade acontece atravessada pela solidão, pela pobreza e pela violência institucional. Essas mulheres não precisam ser mais fortes; elas precisam ser amparadas por uma sociedade que reconheça o que as atravessa e garanta cuidado, presença e direitos”, afirma Maiumi.

Os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde reforçam a distância racial no cuidado materno no Brasil. A Pesquisa Nascer no Brasil II (2022) evidencia que a mortalidade materna entre mulheres negras é mais que o dobro da registrada entre mulheres brancas. Enquanto a mortalidade materna entre mulheres pretas chega a 100,38 óbitos por 100 mil nascidos vivos, entre mulheres brancas o índice é de 46,56 por 100 mil. O estudo também aponta que mulheres negras enfrentam maior exposição a complicações durante a gestação e o parto, além de receberem menos intervenções adequadas no momento do atendimento. Esses números reforçam que o risco materno não é distribuído de forma igualitária: ele acompanha o marcador racial e revela como o racismo institucional segue estruturando quem tem acesso ao cuidado e quem permanece em situação de vulnerabilidade.

Com atuação voltada à saúde mental de mulheres, crianças e famílias, a especialista ressalta que um cuidado ético e politicamente implicado exige reconhecer a raça como determinante na experiência da maternidade no Brasil. Para ela, fortalecer redes de apoio, ampliar o acesso à saúde mental e combater práticas racistas no sistema de saúde são passos fundamentais para proteger mães negras e seus filhos.

 

*ASSESSORIA | INFORMAÇÕES | ENTREVISTAS*
Caroline Vilas Bôas
E-mail: contato@carolinevilasboas.com.br
WhatsApp e ligações: +55 (71) 99317-7908
Apenas WhatsApp: +55 (71) 9969-0342 | +55 (11) 9145-4041
Instagram: @acarolinevilasboas
Site: www.carolinevilasboas.com.br

Preencha o formulário e cadastre-se