O Rosto do Planeta Ferido na Arte de Nelson García
Nelson García Torrente e a Anatomia da Dor
Às vezes, a arte mais poderosa é aquela que retorna ao essencial: uma linha preta sobre papel, um gesto capaz de conter todo o peso de uma época. O artista colombiano Nelson García Torrente domina essa linguagem primária em sua obra “Dolor invisible”, um desenho de expressividade avassaladora. Esta peça, longe de oferecer consolo, é apresentada como a consciência crítica da exposição internacional “Semillas de Armonía 2025 – El color que nos une”, um contraponto necessário que nos lembra sobre quais bases devemos semear. Nelson García Torrente, nascido em Neiva, é uma figura profundamente enraizada no tecido educacional e cultural de sua cidade. Sua trajetória como professor de artes na educação pública desde 2005 e como diretor de sua própria academia, Arte e Design, desde 2017, revela um comprometimento que vai além da criação pessoal e o consolidou como um guia que entende a arte como ferramenta de percepção e pensamento crítico, filosofia claramente refletida na honestidade de sua obra. “Dor Invisível” é um desenho a grafite que nos confronta com um rosto em close-up, contorcido em profunda agonia. Os olhos fortemente fechados, a boca aberta num grito silencioso e as feições borradas pela fúria dos traços compõem uma imagem de puro sofrimento. O rosto não parece sólido; é feito da mesma matéria caótica e febril do entorno, como se a dor fosse uma atmosfera que dissolve a identidade. É um rosto universal que poderia pertencer a qualquer um e, portanto, pertence a todos nós. A chave da obra está em sua parte inferior. Sob a imensa cabeça em luto, o artista esboçou uma paisagem de devastação. Estruturas em ruínas são visíveis, uma terra arrasada que é a causa direta do sofrimento que a preside. O próprio artista confirma que a obra faz parte de uma série que aborda a dor causada pela poluição e pela guerra. Dessa forma, o título assume uma nova dimensão: a “dor invisível” é a angústia coletiva que sofremos diante da destruição do nosso mundo, um sofrimento que, embora frequentemente ignorado, define a nossa época. Integrar uma obra dessa natureza a uma exposição chamada “Sementes da Harmonia” é um ato curatorial de grande inteligência. García Torrente introduz uma dissonância necessária, um lembrete de que a harmonia não pode ser construída sobre a negação do conflito. Sua obra é a anatomia da ferida. Para curar, é preciso primeiro diagnosticar. A semente lançada por este desenho é a da conscientização, a aceitação de que o primeiro passo para um futuro harmonioso é reconhecer a dor do presente. Este grito de grafite viajará por todo o continente.Levando sua mensagem urgente a novos públicos. A exposição iniciará sua itinerância na Assembleia Departamental de Huila, em Neiva, Colômbia, em 27 de outubro de 2025. Em seguida, será apresentada na Universidade Nacional de Educação, em Lima, Peru, em 7 de novembro; no Museu do Estado de Michoacán, em Morelia, México, em 27 de novembro; no Memorial da América Latina, em São Paulo, Brasil, em 5 de dezembro; e na Casa da Cultura de Merlo, em Buenos Aires, Argentina, em 14 de março de 2026, com futura parada confirmada na Espanha. A obra de Nelson García Torrente é uma peça fundamental no discurso de “Sementes de Armonía”. Ela nos obriga a parar e ouvir. É um desenho que dói, mas ao mesmo tempo cumpre uma das missões mais nobres da arte: tornar visível o que nos recusamos a ver, dando forma e rosto ao sofrimento coletivo para que, uma vez reconhecido, possamos começar a curá-lo.