Radiação alta no Brasil aumenta risco de câncer de pele, alerta especialista

 

Dermatologista Alessandro Alarcão destaca falhas comuns na proteção solar e chama a atenção para sinais na pele

O Brasil vive um cenário de radiação ultravioleta persistentemente elevada, e o risco de câncer de pele segue entre as maiores preocupações dos especialistas. O dermatologista e cirurgião dermatológico Alessandro Alarcão chama a atenção para a intensidade da exposição solar no país e para práticas inadequadas de proteção que ainda são observadas na população. Diante dos dados recentes, ele reforça que é necessário redobrar os cuidados.

Segundo estudo de 2025 do Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 23,5% dos trabalhadores brasileiros permanecem expostos ao sol durante a jornada laboral. Entre os homens, esse índice chega a 36,5%. Em paralelo, medições realizadas neste ano indicam que 23 capitais e o Distrito Federal registraram índice ultravioleta (IUV) classificado como “muito alto” ou “extremo”, especialmente em períodos de calor intenso e céu aberto.

Presidente do Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica 2026, Alarcão explica que ondas de calor mais frequentes, exposição prolongada ao sol e o uso inadequado do protetor solar formam um contexto que merece atenção redobrada.

Ele relata que o número de atendimentos por lesões suspeitas aumentou nos últimos meses e que o comportamento da população diante do sol ainda preocupa. “A radiação está mais intensa, o protetor perde eficiência com mais rapidez e isso afeta diretamente quem permanece longos períodos ao ar livre”, afirma.

*UV forte, proteção falha e risco real*

De acordo com Alarcão, o uso incorreto do protetor solar — FPS abaixo do recomendado, quantidade insuficiente e ausência de reaplicação — continua sendo um dos principais motivos que elevam o risco de danos à pele. Ele lembra que áreas frequentemente esquecidas, como orelhas, nuca e dorso das mãos, também precisam de atenção, sobretudo em dias de IUV extremo.

Trabalhadores que passam horas sob o sol figuram entre os mais expostos. Agricultores, pedreiros, entregadores, vigilantes, motoristas e pescadores enfrentam radiação direta e contínua, acelerando o acúmulo de danos cutâneos. Pessoas de pele clara, com histórico familiar de câncer de pele ou com comprometimento do sistema imunológico também integram grupos de maior vulnerabilidade.

O especialista recomenda protetores solares FPS 50 ou superior, reaplicação frequente e associação com barreiras físicas — como roupas com proteção UV, chapéus de aba larga e óculos com filtro solar.

*Grupos que exigem atenção redobrada*

Alguns perfis precisam manter uma rotina ainda mais rigorosa de proteção:
• Pessoas de pele clara, loiras ou ruivas, ou com olhos claros
• Indivíduos com histórico familiar de câncer de pele
• Pessoas imunossuprimidas, incluindo transplantados
• Profissionais expostos ao sol intenso, como agricultores, pedreiros, vigilantes, entregadores, motoristas e pescadores
• Pessoas com muitas pintas ou sinais espalhados pelo corpo

*Sinais para observar e avaliação especializada*

O dermatologista reforça que observar alterações na pele deve fazer parte do cuidado cotidiano. Lesões que crescem, feridas que não cicatrizam, manchas com múltiplas tonalidades ou mudanças rápidas em sinais já existentes devem motivar avaliação. “A regra do ABCDE auxilia muito na identificação de lesões suspeitas, mas qualquer mudança que fuja do padrão habitual merece atenção”, diz.

*A regra considera:*
A – Assimetria
B – Bordas irregulares
C – Cores múltiplas
D – Diâmetro maior que 6 mm (embora lesões menores também possam ser preocupantes)
E – Evolução, ou seja, qualquer alteração perceptível em curto período, como crescimento, sangramento, coceira ou mudança de cor.

Além do melanoma, Alarcão destaca sinais que podem indicar outros tipos de câncer de pele, como o carcinoma basocelular, que costuma se apresentar como lesões peroladas ou avermelhadas de crescimento lento, e a ceratose actínica, caracterizada por áreas ásperas, crostosas ou descamativas.

*Outros sinais que exigem atenção incluem:*
• Feridas que não cicatrizam em 4 a 6 semanas
• Lesões que sangram, ardem ou coçam persistentemente
• Manchas escuras que crescem ou mudam de tom
• Caroços perolados ou avermelhados de crescimento lento
• Áreas ásperas, crostosas ou com descamação persistente

Alarcão recomenda a realização do autoexame mensal em ambiente bem iluminado e orienta que pessoas com histórico de exposição intensa ou fatores de risco mantenham acompanhamento dermatológico regular. Para ele, o conjunto de cuidados diários — proteção solar adequada, vestimentas com barreira UV, observação da pele e consultas periódicas — segue sendo a estratégia mais eficaz para detecção precoce.

Com índices de radiação elevados e rotinas intensas de exposição em várias regiões do país, o dermatologista reforça que a população deve permanecer vigilante quanto aos sinais da pele e adotar práticas consistentes de fotoproteção, especialmente nos meses de maior intensidade solar.
Podcast edinhotaon/ Edno Mariano

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